É o mercado que vai ditar as regras da Internet das Coisas

Vamos ver se nos entendemos: a IoT (Internet of Things – Internet das Coisas) não é mais do que um nome criado para designar algo que já existia há mais de uma década mas que, com o desenvolvimento tecnológico que se tem verificado nos últimos 10 anos, tem vindo a ser potenciado e que já está a mudar muitos sectores da nossa vida. Esta é a visão de Pedro Veiga, investigador, académico e professor catedrático do Departamento de Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Mas afinal, em que é que consiste a tal Internet das Coisas? Basicamente, diz o investigador, consiste na massificação de sensores e atuadores, do mais variado tipo, que pela redução de custo, pela miniaturização, baixo consumo, cada vez maior capacidade de memória e/ou processamento mas, em especial, pela sua capacidade de comunicação, podem ser inseridos em inúmeros sistemas do nosso dia-a-dia e estarem integrados em sistemas ou aplicações que revolucionam o modo como vivemos. “Estes sensores e atuadores estão a ser integrados em sistemas de complexidade crescente e tem um fator diferenciador, mais recente, que é o de potenciarem a comunicação máquina a máquina (leia-se sensor ou atuador e um computador) sem intervenção permanente do homem”, explicou.

Um exemplo que nos é familiar é a Via Verde. No carro temos um identificador (o sensor) que tem capacidade de armazenar o código de um pórtico de entrada e emitir a sua identificação. Esta informação é enviada para computadores que a processam de modo automatizado e, consoante o caso (autoestrada, parque de estacionamento, abastecimento de combustível), interagem com outros sistemas para nos disponibilizarem serviços.

Outro exemplo é quando fazemos desporto com um monitor cardíaco no tórax, ligado por Bluetooth a um smartphone que, com auxílio do GPS, regista o nosso percurso e o nosso desempenho físico e que durante o exercício ou no fim o envia para uma rede social temos um outro exemplo da IoT.

Mas há outros exemplos menos fáceis de entender para o utilizador não embrenhado no tema, mas que tem impactos económicos de relevo. São exemplos a monitorização e controlo remotos de edifícios, a monitorização remota de doentes a partir de dados recolhidos por sensores que estes têm (por exemplo, um pacemaker de nova geração) ou na gestão de grandes espaços logísticos de empresas para garantir um controlo fino dos inventários e da localização de bens. Ou ainda na agricultura de precisão, onde através da colocação de sensores de parâmetros ambientais (temperatura, humidade) é possível atuar um sistema de rega de modo altamente preciso e, poupando água, garantir condições ambientais uniformes em grandes espaços agrícolas.

“Recordemos ainda que já há automóveis equipados de sensores que detetam as marcações da estrada ou podem identificar sinais de trânsito e que podem atuar nos comandos do automóvel para aumentar a nossa segurança. E os automóveis sem condutor estão aí, sendo um exemplo mais avançado do uso de sensores e da sua integração em sistemas de elevada complexidade.

Em tudo isto, invariavelmente vamos esbarrar em outros conceitos como o de Big Data e da hiperconetividade. “A massificação de sensores pode aumentar de modo muito significativo os dados que são recolhidos. Por exemplo, nos STCP todos os autocarros foram equipados com redes sem fios que, além de darem conectividade aos utentes, recolhem imensos dados relativos ao tráfego”. Ainda na cidade do Porto, continua o Pedro Veiga, a respetiva Câmara Municipal tem vindo a equipar os veículos de recolha de resíduos com sensores que recolhem informação, a partilham com os sistemas de informação municipais e, assim, graças ao tratamento de toda esta informação é possível fazer uma gestão mais fina e cuidada dos recursos.

Ou seja, em inúmeras áreas vai ser possível recolher muitos dados – a Big Data – que, devidamente tratados, podem ser muito úteis na melhoria dos serviços prestados por se conseguir gerar mais “inteligência” a partir dos dados recolhidos.

Haverá hoje consciência do potencial da Internet das Coisas? Para este investigador, nas empresas e em muitas organizações os engenheiros que estão a fazer I&D para criar novos sistemas e aplicações trabalham intensamente para aproveitar os potenciais da tecnologia. Mas certamente irão surgir novos usos que ainda nem imaginamos. E deu exemplos de sectores como o da saúde, em que se podem verificar ganhos de eficiência e de acompanhamento de pacientes, onde creio que irão surgir inúmeras invenções que vão melhorar os cuidados de saúde de todos.

Entre aqueles de “desenham o Futuro” há uma consciência que é uma área de grande potencial e, por isso, há muitas empresas a fazerem grandes investimentos e muitas instituições – por exemplo o Programa H2020 da União Europeia – que contribuem para explorar o potencial da IoT.

Há por isso imensos desafios tecnológicos a nível de novos tipos de sensores, mais pequenos, com menor consumo, com mais capacidade e medindo parâmetros mais diversos. “Ainda no sector da saúde os bio-sensores, em nossa opinião, serão muito importantes. Mas também câmaras de captura de imagem mais sofisticadas, em termos de resolução e ligadas a sistemas com uma crescente capacidade de processamento de imagem para identificação de objetos, pessoas, contextos”.

Mas aquele que talvez seja o maior desafio para o professor, que pode ser decisivo na maior ou menor rapidez na adoção da IoT, é o da segurança. “Costumo ensinar aos meus alunos que a segurança deve ser uma das partes iniciais e fundamentais na conceção de qualquer sistema”. Infelizmente, devido à motivação de redução de custos e de prazos de entrada no mercado, a segurança muitas vezes é desprezada, sendo deixada para o fim. “Mas com a IoT há desafios de privacidade, acesso aos sensores, controlo de intrusões e proteção de infraestruturas críticas que tornam premente que a segurança seja tida em conta (e orçamentada) logo desde o início”.

Quanto ao impacto pode ter na nossa sociedade e no mundo empresarial, é que podemos contar com um futuro com mais conforto mas com desafios que ainda não conseguimos imaginar. “Mas o perigo de uma sociedade sob o controlo de um Big Brother, ou vários, é um problema que temos de resolver desde já. Podem estar em risco valores democráticos que julgávamos adquiridos. É uma área onde há muito que discutir e onde se avizinham tentativas de controlo perigosas”.

E é o mercado que vai ditar as regras. Os investigadores darão contributos importantes mas, em última instância, são as empresas que construirão as soluções, as colocarão no mercado e serão responsáveis pela gestão de todo o ciclo de vida destes novos sistemas. “Mas é necessário formar recursos humanos com capacidade de inovação para poderem ver como a IoT pode contribuir para uma sociedade mais ágil, humana e democrática”.

Aceda aqui ao nosso whitepaper sobre Internet das Coisas. 

Susana Marvão

Jornalista especializada em TIC desde 2000, é fã incondicional de todo o tipo de super-heróis e da saga Star Wars. É apaixonada pelo impacto que as tecnologias têm nas empresas.

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