Web Summit | A tecnologia está a destruir a nossa privacidade

O primeiro debate do Web Summit foi sobre privacidade e colocou frente a frente Salil Shetty, secretário geral da Amnistia Internacional, e Robert Scoble, CEO e fundador do Scobleizer . A moderação esteve a cargo de Kurt Wagner, editor sénior do site Recode.

Vale a pena sacrificarmos a nossa privacidade face aos benefícios da tecnologia (The benefits of technology are worth sacrificing our privacy for) foi a questão colocada pelo moderador à audiência no início de mais uma conferência no Center Stage.

Robert Scoble, apresentou-se em palco com uns óculos de realidade virtual e indicou que no futuro, será comum vermos cada vez mais pessoas com este tipo de tecnologia. “O mundo em que vamos entrar vai trazer-nos um enorme aumento de funcionalidades e características mas isso vem com um preço”, referiu. Scoble indicou que vamos apreender a lidar com a privacidade, ou a falta dela, de uma forma apropriada conforme as novas tecnologias forem sendo cada vez mais parte da nossa vida.

“A Aministia Internacional é uma grande crente no poder positivo da tecnologia digital” indicou Salil Shetty. “A expansão da tecnologia fez ,e faz, com que cada vez mais pessoas estejam a par dos seus direitos e tem proporcionado que empresas e governos sejam responsabilizados. Não há dúvidas do imenso poder da tecnologia e que veremos grandes feitos no futuro”, acrescentou.

Shetty utilizou o exemplo de Darfur para explicar à assistência como a própria organização usa também as novas tecnologias. A Amnistia usou imagens de satélite para provar ataques do governo às populações e as imagens foram descodificadas num dia com a ajuda de várias pessoas de todo o mundo através de uma plataforma, enquanto antes teria levado cerca de seis semanas.

Para o responsável, a grande questão é o que a tecnologia pode fazer pelos direitos humanos.

Salil Shetty considera que os governos tem usado a tecnologia para reduzir a liberdade de expressão, a privacidade e até a liberdade das pessoas e falou dos caso da Turquia, México, Egipto, China, entre outros. “A decisão sobre se a informação deve ou não ser privada deve ser de cada pessoa e não dos CEO das empresas e governos”.

Os governos tem a obrigação de proteger os direitos humanos.  A tecnologia está a mover-se muito depressa mas a legislação e os governos estão “adormecidos” e não acompanham as mudanças, foi outro dos pontos focados pelo secretário geral da Amnistia Internacional.

Robert Scoble falou que a própria tecnologia terá que criar formas de se “ligar e desligar sempre que for preciso” para garantir a privacidade de certas informações e ações. “Vamos ter muitas utilidades com a tecnologia mas isso vai trazer alguns efeitos negativos que devemos pensar” mas salientou que não podemos parar com a inovação.

Relativamente à recentes questões sobre a privacidade dos serviços de mensagens como o Whatsapp e as backdoors que o FBI pretendia que a Apple tivesse criado, Salil Shetty afirmou que “não existem backdoors apenas para as pessoas boas”, quando elas existem podem ser usados também por criminosos.

Ambos os intervenientes concordaram que os governos não fornecem educação suficientes às populações em relação à privacidade.

“Falamos muito sobre tecnologia e direitos humanos mas devíamos falar em tecnologia com dignidade, tecnologia com equidade, tecnologia com liberdade, paz e justiça” concluiu Salil Shetty, que arrancou uma ovação ao público presente.

O CEO e fundador do Scobleizer fechou a sua intervenção dizendo que se “desacelerarmos as inovações tecnológicas, estamos a prejudicar o país pois o mesmo perde a capacidade de competir na economia global” e que essa não é a mensagem que o Web Summit de Lisboa quer passar.