DES2016 | Transformação digital é uma oportunidade, não uma ameaça

A digitalização e a internacionalização são os dois conceitos que mais temos utilizado para sair desta crise, disse em Madrid, no DES2016, Enrique Verdeguer Pulg, da ESADE. Aliás, fala-se destes dois conceitos como se fossem os dois lados de uma moeda que se chama competitividade. Um painel que contou com a participação da Iberia, Telefonica, Accenture, Rtve, Ideas4All e Hispasat.

* em Madrid

Em um interessante painél sobre a agenda digital das empresas, Ana Maria Llopis, da Ideas4All, explorou que a velocidade é uma das características da transformação digital. “Estamos em um mundo de incertezas, de coisas que não entendemos, que estamos a experimentar Hoje, não há limites. E, para mim, o mais importante é ter noção do exponencial. São as organizações exponenciais que vão sobreviver. As que se reinventam. É aí que estamos. A reinventarmo-nos permanentemente”.

E termina: “A transformação digital é progresso, não há que ter medo”.

Elena Pisonero, do grupo Hispasat, acrescenta que o digital não é uma moda. Ou, pelo menos, não é apenas uma moda. E isto mesmo que ponhamos uns óculos virtuais ou um relógio xpto. “A tecnologia tem sido um elemento facilitador ao longo da vida da humanidade. Acredito que, ao contrário do que muitos apregoam, a sociedade não está a ficar mais fria. Estamos a devolver a humanidade às pessoas”.

Elena Pisonero diz estarmos perante uma mudança de paradigma que não só altera a forma como as empresas se relacionam com os clientes, mas claramente a forma como as próprias empresas trabalham. “E tornamos possíveis novas realidades, novos modelos de negócio.

Passamos da tecnologia por tecnologia para uma tecnologia como ferramenta, que nos pode dar mais qualidade de vida, dar uma nova visão sobre a vida. E não só nas empresas, nas quais a tecnologia teve realmente um impacto grande. Hoje, podemos trabalhar em rede e à distancia, permeáveis às ideias dos outros. Inovamos e criamos coisas com os nossos clientes, com os clientes dos nossos clientes, com os provedores. A revolução digital é isto. Uma visão integrada e ampla. É uma oportunidade e não uma ameaça”.

Enrique Alejo, da Rtve, diz claramente que para além da digitalização ter ajudado a empresa espanhola a tornar-se mais próxima dos seus telespectadores, permitiu ainda que a própria organização se tornasse “mais plana. Uma empresa que reproduza interligações e conexões. E é isso que a digitalização nos permite”.

Para Jose Luis Sancho, da Accenture, a digitalização é basicamente o motor de crescimento. E deu o caso da própria consultora cujo crescimento vem precisamente de projetos digitais.

Mas além do crescimento, a digitalização é, para este responsável, eficiência. “Somos uma empresa virtual. Não há sede. Eu, por exemplo, não tenho um posto de trabalho. Para nós, o mundo digital, a analítica, é fundamental para poder fazer tudo isto”.

Apesar de tudo, Jose Luis Sancho diz que esta não é propriamente uma jornada fácil. “Temos de estar preparados para fazer coisas que antes seriamos incapazes de fazer. Que sempre pensamos que não iríamos fazer. A Accenture é agora considerada a maior empresa de Marketing Digital do mundo. Quando entrei para a companhia, podia pensar muita coisa, mas nunca pensei que estaria a entrar em uma empresa de Marketing Digital!!! Há que estar preparados para fazermos coisas que nunca pensamos que íamos fazer”.

Um terceiro apontamento de Jose Luis Sancho é a necessidade de investir, quer em talento quer em tecnologia.

Luís Miguel Gilpérez, da Telefónica España, admite estamos a viver uma verdadeira revolução digital, sustentado pelo facto de 47% dos lares mundiais estarem já conectados à internet. “E há mais linhas telefónicas que pessoas no mundo”, disse na sua apresentação.

Isto obviamente traz um forte potencial de negócio sobretudo quando vemos que o uso do vídeo e, consequentemente, dos dados, tem estado a subir de forma exponencial. “E Espanha é o paraíso para as telecomunicações.”

Vamos a números: no país vizinho, a penetração da Internet atinge os 79% e o uso das redes sociais está nos 81%, um valor superior à média europeia. A penetração dos smartphones é de 88%, uma percentagem só superada mundialmente por Singapura.

Luís Miguel Gilpérez diz que a Telefonica quer aproveitar esta revolução e por isso mesmo definiu, em 2011, um plano de transformação. Um plano coadjuvado por um forte compromisso de investimento. “Estamos muito mais avançados que a agenda digital europeia. E isto é feito com dinheiro privado e não público, o que não acontece em outros países. Estamos bastante mais adiantados do que a Europa”. Nos últimos cinco anos a empresa investiu qualquer coisa como 11 mil milhões de euros.

Luís Gallego, da Iberia, diz a transformação digital no setor aéreo está a ser muito vincada. Em 2012, é público que a Iberia estava em um processo no mínimo complicado, com perdas diárias de mais de milhão de euros. “Havia que ter um plano de transformação que, primeiro, salvasse a empresa e depois a reconstruísse. Foi assim que lançamos o plano de futuro, com 32 iniciativas que atacaram a companhia em todos os ângulos para conseguir uma estrutura eficiente e atingir a rentabilidade”.

E em todo este processo havia duas iniciativas transversais, disse Luís Gallego: a digital e a cultural.

A digital abarcou vendas, gestão de receitas, novos canais de distribuição e também permitiu uma redução de custos. “A forma como fazemos negócio alterou e não vai voltar atrás. Hoje, essa transformação está centrada não só no cliente, mas também na própria comunicação interna e na sua relação com os colaboradores”.

Novos desafios estão agora no horizonte, como o facto dos clientes quererem estar conectados em todas as fases do voo.  “Agora temos que ter wifi de alta velocidade. Antes a ligação não muito rápida, permitia enviar umas mensagens, pouco mais, mas agora estamos a conseguir que os nossos clientes estejam efetivamente conectados. Estamos no bom caminho e não há que parar. Está aí a Internet das Coisas e abre-nos o futuro a novas experiências”.