Gartner prevê o surgimento de um mercado negro na IoT

A Gartner prevê o aparecimento de um mercado negro ligado à Internet das Coisas, com dados de sensores e de vídeos falsos com vista a atividades criminosas. Este é um dos impactos inesperados da disseminação da IoT, diz a consultora.

Vários efeitos indesejados, ou que não tinham sido contemplados até agora, são descritos no novo relatório “Unexpected Implications Arising from the Internet of Things”, incluindo na compilação “Predicts 2016: Algorithms Take Digital Business to the Next Level” que a Gartner está a divulgar.

As previsões incluem um mercado negro que valerá perto de cinco mil milhões de euros em 2020. “A natureza das soluções IoT, a forma como são implementadas e o tipo de dados que gerem e consomem estão a dar origem a novas implicações de segurança e privacidade, que as empresas precisam de endereçar”, escreve a consultora. “Este é um risco que está a escalar rapidamente, trazendo complexidades desconhecidas à maioria dos líderes de negócio e tecnologia.”

Como afirma o analista Ted Friedman, a integridade dos enormes volumes de dados captados na IoT será muito importante em decisões pessoais e de negócio. “Um mercado negro para dados de sensores e vídeo falsos ou corrompidos significa que as informações poderão ficar comprometidas ou ser substituídas por dados imprecisos ou deliberadamente manipulados”, explica o responsável. “Este cenário vai impulsionar o crescimento de produtos e serviços, resultando numa discussão pública extensa sobre o futuro da privacidade, os meios de proteção da privacidade individual e o papel da tecnologia e dos governos na proteção da privacidade.”

Precipitação e atrasos na IoT

Outro ponto realçado no relatório é que 75% dos projetos IoT vão demorar mais do dobro do tempo inicialmente previsto durante os próximos dois anos. A consultora espera que três em cada quatro projetos sofram atrasos significativos, com custos associados. Muitas empresas vão fazer cedências para cumprirem o calendário, e isso também será nefasto. “No médio e longo prazo, estas cedências vão requerer que o projeto seja refeito, e talvez obrigue à recolha e nova implementação.”

As empresas mais afetadas, indica o vice-presidente de pesquisa Alfonso Velosa, são as que têm enfoque nos produtos. “Vão procurar lançar produtos mais inteligentes e conectados, mas isto será uma abordagem reativa e tática que procura endereçar o produto IoT da concorrência”, refere. Porque exige a introdução de um novo modelo tecnológico, vai arrastar consigo a necessidade de mudanças de processos e cultura nas empresas, o que poderá ser um desastre para os projetos e a sua execução atempada.

Custos de segurança

Um terceiro efeito apontado pela Gartner é o aumento dos custos de segurança devido à Internet das Coisas. O orçamento de segurança das empresas reservado à IoT passará de 1% em 2015 para 20% dentro de quatro anos. “A maioria dos fabricantes e serviços de cibersegurança já estão a desenvolver um calendário e arquiteturas de segurança para a  IoT, antecipando a oportunidade de mercado”, avança o VP de pesquisa Earl Perkins. Em especial, há startups focadas em nichos de segurança virados para a Internet das Coisas, tais como autenticação aparelho-a-aparelho e segmentação de redes.

O relatório pode ser consultado no site da Gartner, para utilizadores registados.