Entrevista da Semana: “No futuro, será tudo conectado”

B!T: A Ericsson divulgou um relatório que estimava que, em 2020, 70 por cento da população mundial teria um smartphone e que 90 por cento estaria coberta por banda larga móvel. O que eu quero saber é o seguinte: chegará o 5G a tempo de atenuar a pressão que este crescente número de dispositivos vai colocar sobre as redes de hoje?

Jan Höller: Antes mais, a Ericsson vê o 5G de uma perspetiva dos sistemas. Abrange uma variedade de diferentes tecnologias de acesso, que inclui 3G, que inclui 4G. Não será apenas uma nova interface tecnológica, mas também um conjunto de capacidades avançadas, como aconteceu com o 4G. 2020 é a previsão para a chegada da tecnologia de acesso 5G. Mas nós [Ericsson] vemos o 5G numa perspetiva de sistemas, e essa caminha já começou. Hoje já estamos a empurrar a 4G em direção, por exemplo, à Internet das Coisas (IoT), à conectividade entre todas as coisas. E estas tecnologias chegam ao mercado antes de 2020, dentro de dois ou três anos. Contudo, o 5G, enquanto sistema, aliado à tecnologia de acesso, chegará por volta de 2020. Muitas das características que associamos ao 5G, como IoT ou comunicação M2M, chegarão antes. O 5G será um sistema de múltiplos acessos.

Em que projetos 5G tem a Ericsson andado envolvida? Li sobre os trabalhos desenvolvidos com a King’s College de Londres e a Universidade de Dresden.

A Ericsson tem o programa 5G PPP – 5G Public-Private Partnership – que no qual se incluem vários projetos sobre os vários aspetos do 5G. Isto tudo é feito em colaboração com os nossos clientes, com os nossos parceiros, com os nossos concorrentes, com o mundo académico, e por aí adiante. Estamos envolvidos em vários projetos europeus. Por exemplo, lançámos 5G na Suécia, onde trabalhamos grandes empresas locais, como a ABB e a Scania, na área automóvel.

O 5G está já a ser testado no exterior? Ou ainda está dentro das instalações da Ericsson?

Estamos, por exemplo, a planear os testes exteriores com a King’s College. Quando é que isto acontecerá? Isso não lhe sei dizer.

Mais dispositivos móveis e maior conectividade resultam na IoT. Como é que a Ericsson vê a IoT?

Nós acreditamos numa Sociedade em Rede, onde tudo estará interligado. No futuro, será tudo conectado, literalmente, como edifícios, carros, o que for. Para nós, conectividade é digitalização, transformação digital. Peguemos no negócio da música. Vimo-lo a passar de um negócio muito focado em produtos, vendendo CDs e músicas (enquanto produtos), para um negócio que assenta no streaming. Todos os setores serão digitalmente transformados e a conectividade é o fator-chave para fazer isso acontecer. Para mim, a IoT é poder monitorizar e controlar coisas, remotamente, para uma maior eficiência, produtividade e rentabilidade. A IoT é um dos principais componentes da nossa visão de uma Sociedade em Rede.

Falemos agora um pouco sobre Smart Cities. Qual o papel da IoT numa destas cidades inteligentes?

A IoT é um potenciador-chave das Smart Cities. A IoT é um conjunto de tecnologias que permitem a existência destas cidades. São precisos sensores, conectividade, computação, e, acima disso, software e inteligência que permitam extrair valor dos dados gerados. Setor atrás de setor está a sofrer transformações digitais. Olhemos para as áreas da Saúde, dos Transportes, da Energia. Todos eles estão a tornar-se digitais e todos eles estão agregados nos centros urbanos, nas cidades. E todas estas redes e todos estes processos estão integrados uns nos outros. Desta forma, é aumentada a eficiência das cidades e de todos os elementos que as compõem, desde entidades governativas, aos cidadãos e empresas. Poderia dizer-se que a Smart City é o objetivo a atingir, a total conectividade.

Considerando que todos os sensores e sistemas estarão interligados e que existirá um enorme fluxo de dados a navegar pelas redes, como podem as operadoras gerir tudo isto?

É preciso perceber que, quando falamos da construção de uma infraestrutura para uma Smart City, estamos a falar de utilizar os ativos das operadoras, porque estas têm redes móveis com espectro licenciados sobre o qual operam. Com as Smart Cities, serão precisas integrar várias tecnologias. Será que a operadora assumirá esse papel de integrador? Para mim é algo que ainda estará para acontecer. Algumas operadoras contentam-se com o seu papel de fornecedores de conectividade aos seus clientes. Outras, como AT&T, Verizon ou Telefónica, querem ir mais longe, com o desenvolvimento de soluções para, por exemplo, carros autónomos. Querem subir na cadeia de valor.

Portanto, veremos uma divergência entre as operadoras.

Sim, e já o conseguimos, de alguma forma, ver hoje.

A par das vantagens trazidas pela IoT e pela crescente conectividade, surge uma série de novas ameaças com as quais não tínhamos que lidar de forma tão direta. Refiro-me a carros cada vez mais autónomos e computadorizados, a casas inteligentes. Como é que estas ameaças e receios podem ser mitigados?

A segurança é hoje uma grande prioridade. Com o aumento da conectividade, como referiu, pode agora danificar-se propriedade e, até mesmo, magoar pessoas, fatalmente. É preciso investir na segurança desde o primeiro dia. Para todas as soluções desenvolvidas, é preciso aplicar testes meticulosos de segurança, para averiguar a vulnerabilidade a ataques. Mas o problema não é a tecnologia, muitas vezes, mas sim perceber onde, de que modo e quando deve ser aplicada. É preciso amadurecer a compreensão do desenvolvimento de soluções de segurança.

Filipe Pimentel

Formado em Ciências da Comunicação, tem especial interesse pelas áreas das Letras, do Cinema, das Relações Internacionais e da Cibersegurança. É incondicionalmente apaixonado por Fantasia e Ficção Científica e adora perder-se em mistérios policiais.

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