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Setor bancário é dos mais protegidos mas também dos mais atacados

B!T: Devido à natureza do seu negócio, os bancos são das organizações mais protegidas, mas são também das que estão mais em risco. Acha que estas ameaças estão a aumentar? Estas ameaças são mais frequentes, mais sofisticadas?

Moshe Sidon: Lidar com coisas valiosas (como são os dados), é sempre um risco. É preciso protegermo-nos. Esta indústria não é só atacada por concorrentes – o que também acontece noutros setores. Não é só atacada por razões comerciais. É pelo dinheiro. Dinheiro fácil. Qualquer um pode ir hoje à Internet e comprar um programa para tentar atacar o sistema informático de um banco. É o mais protegido mas também um dos mais ameaçados.

Quem é aqui o alvo? Serão os clientes, os utilizadores finais, ou o próprio banco?

Essa é outra questão. Uma conta bancária é atacada utilizando as credenciais de um utilizador final. Quem é que está a ser atacado? É o utilizador? É o banco? Não é claro. Basicamente, o que acontece é que o banco está a ser atacado através do cliente. Legalmente, os bancos são, com frequência, responsabilizados pela segurança dos seus clientes. Os tribunais tendem a decidir a favor do mais lesado.

Quais são os principais objectivos destes ataques? Extrair dinheiro ou roubar informação?

Acredito que sejam os dois. Mas, em última instância, o que se procura é fazer dinheiro. Seja através da venda de dados roubados, ou obter dinheiro diretamente, a finalidade é conseguir lucro. Estes ataques são muito organizados. Não são adolescentes nos seus quartos, nos seus computadores. São criminosos. E todas as fases de um ataque podem ser terceirizadas. Desde o desenvolvimento do programa até à recolha do dinheiro. Funciona quase como um mercado maduro, e o objetivo final é sempre fazer dinheiro, embora a forma de o fazer não passe obrigatoriamente pelo roubo direto de dinheiro.

Se eu fosse um hacker e quisesse roubar um banco, como é que deveria proceder? Qual seria a anatomia do ataque?

Depende muito do propósito do ataque. Teria de arranjar todas as ferramentas necessárias. Normalmente, os cibercriminosos vão atrás do utilizador final, o elo mais fraco. Nem sempre é preciso explorar falhas zero day. Vulnerabilidades conhecidas podem funcionar igualmente. É procurar um banco com defesas mais fracas, e um software que permita atingir o maior número de pessoas, e até vários outros bancos. Por exemplo, em França, um ataque criou sites de phinshing para todos os bancos em apenas um dia. Basicamente, adaptou o mecanismo a cada um deles. Foram criados webistes que imitavam os sites “verdadeiros” e todas as funcionalidades, roubando dados dos clientes para, mais tarde, utilizá-los. Phishing é uma boa estratégia. Não preciso roubar dinheiro diretamente. O mercado negro de dados pessoais está a crescer.

As ameaças ao setor bancário são cada vez mais numerosas?

Estão a crescer, porque mais e mais dinheiro flui por estes canais. Há dois anos já falava disso. Ladrões de bancos seguem o dinheiro, e o dinheiro agora está na Internet. É uma forma diferente de assaltar o banco. Antes fazia-se com armas. Hoje faz-se de uma maneira mais clean.

O que podem os bancos fazer para se protegerem?

Pessoas mais inteligentes que eu disseram que a boa segurança passa pela proteção em camadas. Nunca se está demasiado protegido. É preciso ter controlos de segurança disseminados e não concentrados. Se uma camada for superada, outra tentará impedir o ataque. E assim sucessivamente. Inteligência é um ponto crucial para a proteção. Mas os criminosos também fazem uso dela. Estudam funcionários através de LinkedIn ou Facebook, sabem os seus gostos. É preciso adotar sistemas que permitam detetar comportamentos suspeitos para evitar invasões informáticas. Adotar soluções de identificação através de assinatura, é uma boa opção.

Estão as empresas preparadas para enfrentar estas ameaças? Visto que o nível de sofisticação e frequência são cada vez maiores. São feitos investimentos suficientes?

Falando especificamente da área de fraude baseada em malware e phishing, a situação não é ainda gerida da melhor forma. Em vez de se lidar diretamente com o problema, tem-se se sobrecarregado o cliente final com autenticação dupla, e outras medidas do género. Existem algumas centenas de famílias de malwares conhecidos, e deveria começar-se pela adoção de soluções que nos possam dizer quando existe uma infeção. Mas os bancos ainda não lidam diretamente com as ameaças. Se o tivessem feito à partida, talvez não tivessem adquirido estas proporções, pelo menos para já. Os investimentos têm grandemente sido redirecionados para a deteção de anomalias transacionais. As soluções adotadas podem não ser as mais eficientes. Talvez as coisas venham a mudar.

Se pudesse reunir todo o setor bancário numa sala, que conselhos lhe daria, em termos de cibersegurança?

Arquitetura em camada; soluções que lidam com o “antes” do problema e não com as consequências; soluções que identifiquem malware. Não existe nenhuma “bala de prata”, não existe nenhuma solução mágica. É um processo. É preciso uma ferramenta que tenha uma base de dados em constante atualização, para que as defesas sejam adaptadas.

Filipe Pimentel

Formado em Ciências da Comunicação, tem especial interesse pelas áreas das Letras, do Cinema, das Relações Internacionais e da Cibersegurança. É incondicionalmente apaixonado por Fantasia e Ficção Científica e adora perder-se em mistérios policiais.

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