Um olhar tecnológico sobre 2016

A mobilidade ganhou adeptos, a Apple perdeu terreno, o Chrome é o que mais navega, a Microsoft vendeu a Nokia e a Amazon faz entregas via drones, os smartwatches já não vendem e os tablets… “caput”. O Galaxy Note 7 explodiu do mercado, o Twitter anda à nora e o Whatsapp ganha terreno. O Trump está “on” e o Reino Unido “off”. Por cá, salvamo-nos com o Web Summit. Até sempre, 2016.

Vamos dar uma voltinha por 2016 e ver o que se passou no maravilhoso mundo da tecnologia. Primeiro, as mortes de Ray Tomlinson e Andrew Grove, num ano particularmente fatal para outras áreas, como a das artes. Ray Tomlinson ficou conhecido como o pai do email, tendo falecido vítima de enfarte, aos 74 anos de idade. O segundo, Andrew Grove, foi o primeiro empregado contratado pela Intel, tendo chegado a liderar a empresa de Santa Clara na qualidade de CEO. Padecia de Parkinson e deixou-nos aos 79 anos. Ambos morreram em março do ano passado.

Este foi o ano em que o Chrome se tornou o navegador mais usado em computadores. Se em janeiro, de acordo com estatísticas da Net Applications, tinha direito a pouco mais de um terço da atividade, atrás do até então todo-poderoso Internet Explorer, em maio subiu acima dos 41% e agora controla mesmo a maioria do mercado. O Windows 10 subiu algumas posições desde o seu lançamento, estando hoje em segundo lugar nos sistemas operativos.

Outro número que nos deixa 2016 é a existência de 3 mil milhões de smartphones, de acordo com a Strategy Analytics. Do lado negativo, houve o primeiro declínio em toda a recente história na venda de smartwatches.

Os smartwatches “patinaram” nos vários trimestres. No período entre julho e setembro as vendas atingiram 2,5 milhões de unidades quando em 2015 esse valor havia sido de 5,6 milhões. Estes são valores da IDC embora haja protagonistas no mercado que negam uma crise nos “wearables”.

As vendas de tablets desceram no mesmo período pelo oitavo trimestre consecutivo. Ou seja, há 24 meses que as vendas destes dispositivos caem. Há dois anos. Por falar em smartphones, as vendas trimestrais dos iPhone também caíram em comparação com os valores equivalentes do ano anterior, algo que nunca tinha acontecido.

Ainda no domínio da mobilidade, o fabricante canadiano BlackBerry já viu melhores dias, tendo decidido abandonar o projeto de hardware para dispositivos móveis este ano. Agora, vai centrar-se no software. Outra empresa dos EUA, a norte-americana Microsoft, alienou o seu negócio de telemóveis, vendendo esta unidade à HMD e FIH Global Mobile por 350 milhões de dólares. Assim, a marca Nokia volta a ganhar corpo e alma, agora associada ao software Android.

E se bem que um dos principais players neste mercado da mobilidade seja a Samsung, o seu smartphone Galaxy Note7 fez passar a marca coreana um mau bocado.

Supostamente um dos terminais estrela, o Galaxy Note7 acabava, de forma inglória, a ser removido do mercado após algumas semanas de vida com um grave problema de bateria que causou sobreaquecimento e até explosão do equipamento. Esta verdadeira “novela” não teve ainda o seu episódio final. A Samsung tem visto as suas finanças afetadas pelo desaire e no final do ano que agora terminou nem todas as unidades tinham sido devolvidas pelos seus proprietários.

Mais perto de nós, mesmo aqui ao lado, Espanha tornava-se no país em que mais se consome internet móvel em todo o mundo. Os dados da Zenith mostram que 85% do consumo de internet espanhol é realizado através de dispositivos móveis. Um valor inclusivamente superior a países como Hong Kong, que figura em segundo lugar da lista, com 79%, ou a b, que completa o top 3, com 76%.

Na segurança, um caso que despertou interesse foi o do botnet Mirai, tornando-se naquele que foi o maior ataque à Internet das Coisas registado até hoje. Em outubro passado, os serviços web de dezenas de empresas de renome mundial, da PayPal à Pinterest passando pela Reddit, Twitter, Amazon, Spotify, Netflix ou GitHub, acabaram em “baixo” devido a uma falha nos dispositivos conectados que afetou a empresa de gestão Dyn. Durante o terceiro trimestre de 2016, houve um par de ataques que atingiram os 555 Gbps e os 623 Gbps.

E foram ainda descobertos ataques sofrido pela Yahoo. Em setembro, a empresa gerida por Marissa Mayer confirmou ter recebido, em 2014, um ataque que resultou em 500 milhões de vítimas. Em dezembro, um novo e maior incidente com a Yahoo foi descoberto. Com mil milhões de utilizadores envolvidos, as origens do segundo ataque remontam a 2013. Assim, apesar de um ano intenso de rumores, a Yahoo encontrava um comprador: a Verizon ofereceu 4,830  mil milhões de dólares.

Outra referência tecnológica que muito provavelmente espera melhorar a sua carreira em 2017 é o Twitter. Não surpreendentemente, tem ficado sem executivos de primeira linha, não encontra comprador e aniquilou a plataforma Vine.

Melhor papel está a ter o WhatsApp, que acumulou notícias felizes mês após mês, como o facto de ter conquistado os mil milhões de utilizadores, a chegada a computadores Windows e Mac, a estreia da chamada de vídeo ou o anúncio do serviço gratuito. Sim, o Facebook, a quem pertence o popular aplicativo, foi forçado a interromper a recolha de dados dos seus utilizadores Europa. E em Bruxelas acreditam mesmo que a rede social não terá sido transparente no processo de aquisição do WhatsApp.

Mas as confusões legais com empresas de TI não se ficaram por aqui. A Apple foi condenada a pagar 13 mil milhões de euros, acrescido de juros, por impostos não pagos à Irlanda, que tinha concedido algumas vantagens fiscais que a União Europeia acabou por qualificar como impróprias e ilegais. Deixando as más notícias de lado, a Apple também pode recordar 2016 como o ano em que tentou continuar a inovar, desta vez com a Touch Bar do seu novo Mac que estende as capacidades de controlo e adapta-se a diferentes aplicações que se vão utilizando.

As autoridades europeias introduziram novas regras de proteção e segurança de dados. Debateu-se longamente o “Privacy Shield”, o acordo sobre a transferência de dados entre a Europa e os Estados Unidos, que já entrou em vigor, assinado por diferentes empresas e defendida por alguns como um “fiador” da economia digital. Também não devemos esquecer que a Google acabou por vencer a Oracle no caso Java.

E convém ainda lembrar que a Amazon que, durante este 2016 passou a ter três CEO (Jeff Bezos, o fundador; mais Jeff Wilke e Andy Jassy, CEO Worldwide Consumer e CEO da Amazon Web Services, respetivamente), alcançou o seu primeiro envio comercial graças a drones. Nesta tarefa, a Amazon não está sozinha. Outras empresas do setor comercial e de transporte, como a MRW, procuram enviar pacotes através destes veículos aéreos não tripulados.

Além disso, 2016 deixou cair alguns nomes que pensávamos iam singrar, como a Cyanogen, uma empresa que se apresentou como uma forma de reimaginar a informática e personalizar os dispositivos móveis, mas que encerrou os seus serviços. Também desaparecem iniciativas individuais como a LinuxCon, CloudOpen e ContainerCon, mas sobrevivem como um único evento chamado “The Summit Foundation Linux Open Source”.

Duas grandes notícias que não são estritamente tecnológicas, mas que têm efeitos sobre a indústria da tecnologia são a vitória de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, com uma campanha preocupada especialmente com a segurança cibernética e o voto favorável do Reino Unido para sair da União Europeia, popularmente conhecido como Brexit. Resta determinar o impacto que esta saída britânica vai ter no setor, desde o futuro das startups e empreendedores ao gasto com TI. O Gartner acredita que os gastos deste ano vão diminuir em 0,3%, em vez de um crescimento de 0,2%.

Por terras lusas, mais do que tudo, tivemos Web Summit que prometeu mundos e fundos. Entre polémicas, uma nova abordagem aos eventos, centenas de oradores com conteúdos breves e um futuro aparentemente promissor, uma coisa é certa: Portugal teve direito a “canal” por toda a Europa, com as redes sociais a levarem o nome do país aos recantos do velho continente.:

Números Web Summit 2016

‒ O número de presenças atingiu 53 056 pessoas, oriundas de 166 países;
‒ 42% das pessoas registadas são do sexo feminino;
‒ houve 4 207 053 de visualizações do fluxo de apresentações da Web Summit, na Facebook, ao longo de três dias;
‒ a aplicação móvel da conferência suportou o envio de 1,835,841 mensagens;
‒ O tempo médio de uma sessão na app foi de 12,26 minutos;
‒ usou-se 37 mil quilómetros de fibra;
‒ Foram 34.700 lugares definidos para os participantes para travar negociações;
‒ estiveram presentes 1 490 startups de todo o mundo: 135 juntou-se no programa START, (para as startups mais promissoras); 270 no BETA (em fase de crescimento), e 1080 no ALPHA (em fase inicial);
‒ Mais de 1300 investidores estiveram presentes e durante o evento, decorrendo 30 sessões de 15 minutos, a todo o momento entre os primeiros e startups.