Braga: Fujitsu investe mais um milhão para alargar competências em Portugal

São 300 os postos de trabalho que a Fujitsu criou na cidade de Braga. Para já, estão ocupados 100 deles. Há, por isso, 200 livres. E a mensagem que Carlos Barros, o diretor-geral daquele que é o maior empregador japonês no nosso país transmitiu na cerimónia de inauguração do novo Global Delivery Center da Fujitsu é que os filhos da terra podem voltar. Ou já não precisam de sair. Há emprego aqui.

De Braga para o mundo. Com um saltinho em Lisboa e passando pelo Japão. Complicado? Nada. A Fujitsu, o maior empregador japonês no nosso país, tem em Lisboa, desde 2008, um Global Delivery Center ou, de forma mais simples, um centro de competências, um investimento que na altura rondou os 10 milhões de euros.

Em Lisboa, a operação começou por ter 200 colaboradores que prestavam suporte técnico a 40 mil utilizadores em todo o mundo. Mas, entretanto, a realidade mudou e, hoje, o tal centro de competências na capital portuguesa é já uma força de trabalho com mais de 900 funcionários que providenciam suporte a 350 mil utilizadores em 150 países, em 23 idiomas. O que dá direito a que Portugal seja o país a ter o centro com mais línguas disponíveis no mundo Fujitsu.

A aposta parece ter sido ganha e os japoneses da casa-mãe resolveram voltar a apostar por terras lusas. Foi assim que na passada semana foi oficialmente inaugurada uma extensão desse Global Delivery Center de Lisboa. A cidade escolhida foi Braga, mais concretamente o Pólo de Negócios daquela cidade, que agora passa também a fornecer suporte técnico a milhares de utilizadores da Fujitsu em quatro línguas: inglês, francês, espanhol e português.

“Temos muita gente que saiu do país e agora pode voltar”, disse Carlos Barros, o orgulhoso diretor-geral da Fujitsu Portugal à margem da cerimónia oficial que contou com a presença do Primeiro-Ministro, António Costa, do Embaixador do Japão em Portugal, Hiroshi Azuma e Hidenori Furuta, executive vice president e head of Global Delivery da Fujitsu. “Aqui há emprego. Têm aqui uma oportunidade. Dizemos-lhe claramente que podem voltar”.

Carlos Barros, diretor-geral da Fujitsu Portugal e o Primeiro-Ministro António Costa
Carlos Barros, diretor-geral da Fujitsu Portugal e o Primeiro-Ministro, António Costa

As competências e formações dos colaboradores são diversas e passam por pessoas com grau académico que podem ir desde as línguas e literatura até às áreas mais técnicas como engenharias. “Tínhamos uma colaboradora que falava nove línguas, sete fluentes. E não são assim tão raros os casos de pessoas aqui em Portugal a falarem cinco línguas de forma fluente. Somos extremamente versáteis”, disse Carlos Barros.

Para além do mais, Braga é uma cidade jovem e universitária e, por isso, capaz de dar à Fujitsu recursos altamente especializados, disse Carlos Barros na cerimónia de abertura. “É um marco, uma prova de competência, de capacidade não só da Fujitsu, mas de Portugal que é capaz de fornecer serviços especializados para literalmente todo o mundo”.

Há 38 anos que a empresa tem de alguma forma presença no nosso país. “Não chegamos há pouco tempo e não pensamos partir dentro em breve”. Nos últimos anos, o investimento nos centros de competências atingiu, segundo o diretor-geral, os 15 milhões de euros em recrutamento, gestão, formação, instalações, tecnologia e infraestruturas.

Fujitsu_GDCBraga6

Na cerimónia, António Costa acabaria por destacar o facto de Portugal ter pessoal altamente qualificado, em particular jovens, para além da capacidade de pôr hoje ao serviço do nosso desenvolvimento aquilo que aprendemos durante 500 anos que é relacionarmo-nos com o mundo e relacionarmos o mundo entre si.

Braga vence pela versatilidade em idiomas

Aliás, foi a versatilidade de idiomas o que garantiu a Portugal, e neste caso a Braga, conquistar este centro de competências. Brian Murphy, vice-presidente sénior dos Global Delivery da Fujitsu, e por isso responsável pelos oito centros de competências da empresa japonesa, disse à “B!T” que para além do fator idioma, a relação custo-qualidade da cidade é muito atrativa. “Quer em termos de instalações quer em termos de remunerações laborais. Lisboa é claramente uma cidade mais cara”.

 Brian Murphy, vice-presidente sénior dos Global Delivery da Fujitsu
Brian Murphy, vice-presidente sénior dos Global Delivery da Fujitsu

E apesar de não ter desvendado que outras cidades portuguesas estiveram na corrida por este centro de competências fora de Lisboa, Braga terá ganho a pelo menos quatro outros locais. “Acabamos por ficar com uma lista de quatro cidades, mas Braga tinha, em termos de idiomas, exatamente o que precisávamos. Ou seja, nativos de línguas europeias, o que muitas vezes não é fácil de encontrar e congregar num só local”. De referir que a grande maioria dos trabalhadores já eram habitantes da localidade não tendo, por isso, de ser “convencidos” a vir habitar a cidade.

Para além de Lisboa e a extensão de Braga, a Fujitsu conta ainda, na Europa, com um centro na Polónia, que emprega cerca de 1100 pessoas.

Diz Brian Murphy que um dos seus maiores desafios é precisamente lidar com o crescimento. “Estamos a ser muito bem-sucedidos enquanto organização, cada vez entregamos mais e mais serviços desde os nossos centros de competências e tentar acompanhar esse crescimento e, ao mesmo tempo, ter excelência nos serviços prestados aos nossos clientes é desafiante. Repare, em Portugal, a equipa de gestão tem de continuar a manter os clientes satisfeitos ao mesmo tempo que abriu um novo centro, recrutou novas pessoas, deu-lhes formação para que tenham a qualidade exigida. É um desafio.”

“O grande segredo do sucesso da Fujitsu em Portuga é também a adaptação que temos a outras culturas. Temos uma abertura cultural muito grande e isso pode parecer um pormenor, mas neste tipo de serviços marca toda a diferença”, disse, por outro lado, Sofia Barbosa, responsável pelo Global Delivery Center da Fujitsu em Portugal.

Fujitsu conta com apoio do InvestBraga

Ao alargar as suas competências em Portugal, a Fujitsu contou com o apoio da agência de desenvolvimento económico local InvestBraga, que destacou a capacidade de a região ser capaz de desenvolver rapidamente equipas com capacidades multilingues, a proximidade geográfica com grandes centros europeus e o forte alinhamento cultural que é um fator essencial na disponibilização de serviços baseados no contacto direto com os utilizadores, de modo a compreender os seus problemas com as TIC e encontrar rapidamente soluções. Ao todo o investimento neste novo centro de competências foi de um milhão de euros.

Filosofia “Sense and Respond”

O modelo de serviço “Sense and Respond” usado pela Fujitsu nos seus Global Delivery Centers tem sido reconhecido a nível internacional pelos seus resultados em colocar as pessoas no centro das operações. O tal “human-centric” que a empresa japonesa “insiste” em proclamar. Basicamente, a Fujitsu continua a investir para assegurar que as suas estruturas são capazes de dar conta do serviço através da formação contínua dos colaboradores, proporcionando o desenvolvimento de capacidades específicas e oportunidades de carreira.

A metodologia “Sense and Respond” também se baseia numa visão Lean e de eliminação de desperdício, resolvendo os problemas na linha da frente – normalmente na primeira chamada. As equipas multidisciplinares da Fujitsu levam a cabo encontros de capacitação diários para identificar os principais problemas que motivaram o contacto do utilizador final e encontrar respostas mais rápidas em tempo real. As métricas de desempenho e os tempos de resposta, medidos em tempo real, estão sempre disponíveis aos chefes de equipa para que estes consigam monitorizar continuamente os níveis de serviço. Ou, como disse Brian Murphy, vice-presidente sénior dos Global Delivery da Fujitsu, é uma metodologia que olha todos os dias para as coisas que podem ser melhoradas e implementa as alterações necessárias.

Fujitsu_CarlosBarros1

O sorriso de Carlos Barros

Há mais de uma década acompanhamos de forma regular a atividade da Fujitsu em Portugal. Ainda na altura em que Paulo Igrejas era o rosto da empresa nipónica no nosso país. Carlos Barros era então o diretor-comercial já com larga experiência no mercado nacional e bom conhecedor da casa Fujitsu. Aquando da saída de Paulo Igrejas, Carlos Barros saltou, de forma tímida, para a luz da ribalta. Estávamos em 2008. Na altura, e socorrendo-nos do arquivo, dizia o comunicado de imprensa que “Carlos Barros tem agora como principais desafios garantir uma real e flexível parceria com os clientes, assegurar uma maior percentagem da faturação proveniente da unidade de Outsourcing, o core da companhia, e manter Portugal como um ponto de referência para o investimento do grupo Fujitsu”. Passaram oito anos e o caminho, feito de forma sustentada, começa agora a dar os seus frutos. E, talvez por isso, Carlos Barros não conseguisse esconder, no dia da inauguração, um indisfarçável sorriso de serenidade. Provavelmente de dever cumprido.

“O novo diretor-geral abraça este desafio numa altura em que a Fujitsu desloca para Lisboa um dos seus maiores Centros de Competências, que irá empregar 500 pessoas de diversas nacionalidades, até ao final de 2008”, lia-se no comunicado daquela data.  Hoje este centro tem já 900 pessoas. E inaugurou agora o de Braga que terá direito a mais 300. “Acho que vai ficar para as minhas memórias”, confidenciou aos jornalistas, com a certeza de que “ainda há muito para fazer. Isto é uma jornada, vamos continuar”.