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Smart Cities vai ser um dos temas quentes para 2015

É um dos grandes temas da atualidade. E vai continuar a ser, pelo menos segundo as grandes consultoras que vão nesta altura do ano lançando documentos com as tendências para 2015. As cidades inteligentes, ou o conceito de “Smart Cities”, veio para ficar. Portugal tem, já há um ano, a Rede RENER – Rede de Cidades Inteligentes de Portugal, gerida pela Inteli, que integra 40 municípios nacionais e que promete “afirmar Portugal como palco de desenvolvimento de tecnologias, produtos e sistemas de elevado valor acrescentado para cidades inteligentes a nível global”.

Para construir “Cidades Inteligentes”, inovadoras e sustentáveis, em 2018 mais de 25% de toda a despesa dos governos em Tecnologias de Informação será dedicada à implantação, gestão e perceção de valor de negócio da Internet das Coisas. Estes são dados da consultora IDC. Ou seja, as tais Cidades Inteligentes, ou Smart Cities, começam agora a passar de um conceito, de um estudo, para a realidade. E já há várias iniciativas que nos vão apontando o caminho desta tendência. Em Portugal, há um ano que a Inteli, um “think-and-do-tank” que visa contribuir para o desenvolvimento inovador, sustentável e inclusivo dos territórios, criou a RENER – Rede de Cidades Inteligentes de Portugal, que conta já com 40 municípios.

Os dados são esclarecedores: as cidades são espaços de problemas, desafios e oportunidades. Por um lado, porque agregam 50% da população mundial e contribuem para 60-80% do consumo de energia e 75% das emissões de carbono, originando fenómenos de desigualdade e exclusão social. Um cenário que segundo um documento do Índice de Cidades Inteligentes, elaborado pela Inteli, tende a agravar-se quando se prevê um crescimento populacional de 7 para 9 mil milhões em 2040, principalmente nos países em desenvolvimento. Por outro lado, diz a Inteli baseando-se na consultora Mckinsey, as cidades são palcos de inovação, conhecimento e criatividade, sendo que as previsões apontam para que as 600 maiores metrópoles do mundo gerem 60% do PIB mundial em 2025. Assim, imperativos demográficos, económicos, sociais e ambientais tornam premente a aposta em novos modelos de desenvolvimento urbano. Ora é precisamente aqui que entra o conceito de Cidade Inteligente.

Aliás, Catarina Selada, Head of Cities Unit da Inteli, não tem muitos problemas em classificar as cidades como os novos agentes da mudança, “as novas arenas da competitividade territorial. Basicamente, são os novos protagonistas da mudança”. O próprio teórico político Benjamin Barber numa célebre conferência “TED”, dizia que os presidentes da câmara deviam governar o mundo.

Mas que que tudo isto seja possível, Catarina Selada admite que é necessária uma territorialização das políticas públicas e uma intervenção cada vez mais ativa dos governos locais na definição das políticas regionais, nacionais e europeias. Aliás, recentemente foi publicado um relatório da Comissão Europeia que precisamente apela a uma nova agenda urbana. Ou seja, um foco cada vez mais extensivo das políticas territoriais e setoriais.

Mas as cidades, disse Catarina Selada num evento realizado em Vila Nova de Gaia, para além de serem espaços de concentração de riqueza, de emprego, de inovação e criatividade, sofrem de necessidades e problemas que são, ao mesmo tempo, desafios.

Apesar de tudo, não existe um conceito consensualmente aceite de Smart Cities, quer pela comunidade académica quer pelas políticas públicas. “Há basicamente duas ideologias. Por um lado, uma visão muito virada para a tecnologia, para a área comercial e outra mais centrada nas pessoas, no cidadão”. Catarina Selada explana que a visão centrada na tecnologia vê a cidade como um sistema com o foco no hardware e no software, o que nos conduz necessariamente a um determinismo tecnológico. “E isto gera uma polarização espacial, económica e social. Além de que é um modelo onde a liderança cabe às grandes empresas multinacionais e aos operadores de serviço. Portanto, não temos um balanço de poder entre o que são os poderes locais, as universidades, as empresas e os cidadãos. Estamos perante uma visão neoliberal das cidades que acabam por ser vistas como empresas”.

No outro extremo, teremos as cidades centradas nas pessoas. “As cidades são sistemas sociais complexos. Têm uma história, uma cultura, uma identidade pelo que o foco das smart cities tem de ser o cidadão, tem de ser melhorar a qualidade de vida das pessoas”.

Ou seja, para a Ineti, uma cidade inteligente não poderá nunca ter a ver apenas com tecnologia mas com novas metodologias, comportamentos e estilos de vida. “Apelamos a uma ação colaborativa, a processos de inteligência coletiva para a construção de uma cidade realmente Smart. Novos conceitos têm emergido e que focam essencialmente o cidadão e as comunidades”. Exemplo disso é o crowdfunding.

Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia corrobora precisamente esta questão. E diz querer desmistificar uma ideia que vai pulverizando o nosso quotidiano: o facto do conceito de Smart City estar associado a um conjunto de dimensões que estão muito próximas daquilo que é a tecnologia, as redes, daquilo que é uma cidade moderna e vanguardista mas que raramente usa as palavras pessoas. Mas a questão é que é tudo sobre as pessoas, diz o autarca. “Há que ultrapassar o cariz neoliberal que prolifera nas nossas cidades e nos nossos países em geral e que muitas vezes tende, relativamente às grandes ideias da modernidade, a esquecer o eixo fundamental da nossa intervenção, que são as pessoas que povoam precisamente essas cidades”.

Eduardo Vítor Rodrigues diz estar convencido de que se alguma vez a noção de Smart City esquecesse a dimensão fundamental da pessoa humana deixaríamos de ter uma Cidade Inteligente para termos uma Cidade Espeta. “Fico muito contente que uma abordagem que tenha a ver com as Smart Cities compatibilize os seus grandes objetivos da modernidade, da inovação com o respeito pelos territórios consolidados, com o respeito pela dinâmica histórica e sociológica que os territórios foram acumulando. E este território, o centro histórico de Vila Nova de Gaia, o ponto de partida para o crescimento e consolidação de Vila Nova de Gaia, o ponto de chegada do Vinho do Porto ainda por envelhecer e o ponto de partida do vinho do Porto já envelhecido é provavelmente o sítio perfeito para esta iniciativa. Porque concilia o objetivo da modernidade, do futuro e da inovação com o que não podemos esquecer nos processos de inovação que é claramente o nosso património físico, humano e cultural”.

Claro que o desafio tecnológico das Smart Cities passa pela integração de tecnologias e pela capacidade de comunicação entre os vários sistemas e redes urbanas. O Copenhagen Cleantech Cluster por exemplo, refere a necessidade de articulação entre a infraestrutura física (como edifícios, estradas, redes de energia), a infraestrutura digital (fibra ótica, cloud computing, sensores, smartphones, etc.) e a infraestrutura de comunicação (como tecnologia open source, open interfaces, linguagem de programação standard) das cidades. Contudo, defende a Inteli, nas cidades inteligentes as tecnologias são um enabler e não um fim em si mesmo. As cidades são comunidades de pessoas e, logo, polos de conhecimento e criatividade. “Numa smart city, apela-se à colaboração entre os diferentes acores urbanos (municípios, universidades, centros de investigação, empresas, cidadãos, etc.) no âmbito de um modelo de governação em rede”.

As Cidades Inteligentes na política europeia

A União Europeia tem vindo a colocar o tema das Smart Cities na agenda política, nomeadamente com a Estratégia Europa 2020 para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo.

A iniciativa “Smart Cities and Communities” apresentou um orçamento de 81 milhões de euros para 2012 e 365 milhões de euros para 2013 com vista a apoiar o desenvolvimento de tecnologias inteligentes orientadas para a sustentabilidade nas cidades, nas áreas da energia, transportes e tecnologias de informação e comunicação. Segundo um documento da Inteli, com a “Innovation Partnership for Smart Cities and Communities”, lançada em Julho de 2012, a UE pretende estabelecer parcerias estratégicas entre as cidades europeias e a indústria com vista ao desenvolvimento e implementação dos sistemas e infraestruturas urbanas do futuro.

Acresce que têm também sido aprovados inúmeros projetos de investigação, demonstração e inovação no âmbito do 7º Programa Quadro e do CIP – Programa Quadro para a Competitividade e Inovação, muito associados ao potencial das tecnologias de informação e comunicação na facilitação das funções urbanas e da vida nas cidades.

Susana Marvão

Jornalista especializada em TIC desde 2000, é fã incondicional de todo o tipo de super-heróis e da saga Star Wars. É apaixonada pelo impacto que as tecnologias têm nas empresas.

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