Lidel celebra 50 anos como principal grupo editorial

A Lidel é o principal grupo editorial português de livros técnicos com dedicação a diversas áreas e com especial incidência na área da Informática. Este ano o grupo comemora os seus 50 anos de existência e a B!T foi entrevistar Rita Annes, Diretora Comercial & Marketing, para nos falar um pouco sobre este projeto familiar, cem por cento português.

photo 3 (1)O Grupo Lidel é composto apenas com capitais portugueses e tem prosperado ao longo dos anos, mesmo depois do estalar da crise económica. Rita Annes faz parte da terceira geração da empresa, criada pelo seu avô, e explica que o principal objetivo do grupo passa pela difusão do conhecimento e do trabalho dos autores portugueses. “Nós dedicamo-nos a difundir o conhecimento da nossa língua e os autores nacionais. O nosso objetivo é precisamente difundir o que de melhor se investiga e se faz em Portugal e nos países de expressão portuguesa, mas também permitir aos profissionais e aos estudantes terem à sua disposição livros de qualidade, rigorosos, que lhes permitam desenvolver os seus conhecimentos, aprender e atualizarem-se. Enfim, queremos levar a ciência a quem dela mais precisa”, esclarece a Diretora Comercial.

A Lidel nasceu em 1963 e celebra este ano a idade de ouro, os 50 anos. Rita revelou à B!T todo o processo de criação desta empresa: “O meu avô trabalhou durante muitos anos com produtos químicos e farmacêuticos de origem francesa e em 1957 a Embaixada de França foi contactada por uma editora, que na época era a única editora médica que existia a nível mundial, e então a editora contactou-o porque queria um parceiro de confiança para distribuir o seu produto em Portugal. O meu avô não quis, porque realmente o negócio dele não era esse, mas por ironia do destino acabou por entrar neste mercado da distribuição e ainda hoje somos o distribuidor exclusivo deste produto em Portugal”.

Rita Annes explicou ainda como se deu a passagem do mercado de distribuição para o da edição. “Durante cerca de 30 anos nós distribuímos em Portugal editoras internacionais de várias áreas do conhecimento, sempre dentro dos livros técnicos, e depois em 1989 resolvemos lançar-nos na edição. Começámos por publicar os primeiros livros e em 1991 surgiu a primeira editora do grupo, a FCA, que criámos para se dedicar em exclusivo às Tecnologias da Informação. Portanto, a Lidel nasceu em 1963 e o Grupo Lidel em 1991, com a chegada da FCA”, contou, com orgulho, a neta do fundador da empresa.

Tendo começado pelo mercado da distribuição, a Lidel é atualmente líder no mercado editorial. Rita explica que, apesar deste mercado ter sido uma oportunidade, foi também um grande desafio: “Foi uma oportunidade porque na altura mais ninguém publicava livros portugueses técnicos e científicos e, ao mesmo tempo, foi um grande desafio porque também ainda não eram muito bem aceites nem muito reconhecidos os textos por parte de especialistas portugueses. No entanto, não desistimos, fomos sempre incentivando mais autores a escrever, mais professores a recomendarem os nossos livros, mais profissionais a terem confiança nos nossos projetos e, portanto, conseguimos rapidamente impormo-nos no mercado da edição. Conseguimos construir um catálogo rigoroso que satisfizesse as necessidades de todo o tipo de leitores, não só daqueles que procuram tecnologias mas também dos que têm necessidades mais específicas. Fomos construindo o nosso catálogo, não com base no que possa ser mais procurado, mas sim com base no que efetivamente se utiliza atualmente e fazemos para todos os públicos, como estudantes universitários e profissionais de vários níveis de conhecimento”.

photoUm dos lemas do grupo é, desde sempre, dar total prioridade aos autores portugueses. A Diretora de Marketing fez questão de explicar à nossa revista o motivo pelo qual estes profissionais de origem portuguesa são tão valorizados. “Somos uma empresa portuguesa, portanto a primeira coisa que fizemos foi logo apostar nos autores nacionais. Os nossos autores são especialistas nas matérias, são médicos que escrevem para a área da Medicina, ou investigadores nas várias áreas científicas para as quais nos dedicamos, são especialistas em Informática, são professores de ensino português para estrangeiros, portanto, são profissionais de todas as áreas em que nos dedicamos para tornar o livro o mais adequado possível a cada leitor”, assegura Rita Annes.

Ainda relativamente à aposta no mercado editorial, Rita conta que esta aposta teve uma evolução muito positiva e que hoje em dia é bastante gratificante: “Tivemos uma evolução bastante positiva e estamos muito contentes, pois é muito gratificante quando fazemos um trabalho bom e somos reconhecidos por isso por parte do público e ter a possibilidade de fazer o circuito do livro completo. Assim que decidimos lançar-nos na edição, percebemos que era de facto o que queríamos seguir, portanto dois anos depois começámos logo a lançar as novas marcas e já há muitos anos que esta é a nossa atividade principal. Ainda mantemos algumas distribuições daquelas que temos já há 50 anos e que não nos querem deixar e que nós também temos muito prazer em continuar, mas realmente já há muito tempo que a nossa principal atividade é a edição”.

O Grupo tem atualmente já quatro marcas. “A Lidel é a casa mãe, publica principalmente nas áreas da Medicina, Ciência, Gestão, Economia e ensino português para estrangeiros”, refere a Diretora Comercial. Em 1991 foram fundadas duas novas editoras. Uma delas é a FCA, que se dedica em exclusivo às TI, sendo a “única editora portuguesa com um catálogo tão vasto naquela área” e é já líder na publicação de livros sobre Tecnologias de Informação. A outra editora criada naquele ano é a ETEP, que se dedica á área Técnico-Profissional. “Em outubro de 2010 criámos a Pactor, que é atualmente a marca mais nova do grupo e que foi criada especialmente para se dedicar às ciências sociais e da educação. E a mais jovem aposta chama-se FCA Design e é uma marca que se irá dedicar ao design e arquitetura”, explicou Rita Annes à B!T.

Os livros deste grupo são utilizados em diversas escolas e universidades dos cinco continentes. A Diretora de Marketing contou, com orgulho, como estes livros são usados em todo o mundo: “Nós temos dois grandes tipos de livros, temos os livros de ensino português para estrangeiros que são utilizados principalmente fora do mundo lusófono, porque há muitos estrangeiros a quererem aprender português, mas também dentro do mundo lusófono, porque, por exemplo, há pessoas que emigram e quando voltam à sua terra Natal querem que os filhos aprendam a sua língua. E há universidades de todo o lado a usarem os nossos livros, como nos Estados Unidos, na Austrália ou na Europa”. Rita adiantou ainda que os livros técnicos das áreas da Medicina, da Engenharia, da Informática ou das Ciências Sociais, são trabalhados especialmente nos países de expressão portuguesa, mas que há também uma grande divulgação destes livros fora do país. “Nós temos parceiros em vários países e depois fazemos divulgação dos livros às pessoas, em eventos para profissionais lá fora. Estamos em muitos países em muitos eventos ao longo do ano. Eu ainda na semana passada estive em Luanda, onde o Grupo Lidel foi dos poucos grupos portugueses convidados pelo Ministério da Cultura em Angola, e portanto foi mais uma oportunidade de apresentar os nossos livros naquele país”, revelou.

A Lidel é distribuidora exclusiva em Portugal de conceituadas editoras estrangeiras, como a Encyclopedie Medico Chirurgicale, a George Thieme Verlag, a W.H. Freeman, a Sinauer, a Worth, a Jones & Bartlett, a Sybex e a Wrox, estas duas últimas na área da Informática.

Questionada sobre as vendas do Grupo nos últimos anos, Rita Annes contou à B!T que a empresa tem registado uma evolução positiva. “Temos aumentado muito as vendas nos últimos anos para fora de Portugal, quer dos nosso livros técnicos, quer dos livros de ensino de português, e esperamos que para o ano essa tendência se mantenha, sendo que há cada vez mais procura lá fora”, revela a responsável, acrescentado que, apesar deste crescimento, há ainda um grande problema a ultrapassar. “A sociedade atual não respeita os direitos de autor. Temos livros fotocopiados, livros digitalizados, PDF’s piratas na Internet, e apesar dos esforços que fazemos contra esses fenómenos, a verdade é que continuam e portanto isso tem desencorajado às vezes na edição de livros para públicos que não respeitam o trabalho dos nossos autores. Mas esperemos que o reconhecimento acabe por vir. No entanto, essa tem sido uma ameaça muito grande ao nosso trabalho. A nossa principal concorrência são mesmo as fotocópias e os PDF’s ilegais”, confessa Rita, revelando que a pirataria é de facto o maior entrave do mercado da edição.

Apesar deste problema, as exportações estão a aumentar. Em 2011, cerca de 70 por cento das quantidades vendidas tinham como mercado de destino Portugal. Em 2012 a situação inverteu-se, pois as quantidades vendidas cujos mercados de destino são os mercados externos ultrapassaram os 50 por cento. Neste ano a tendência manteve-se e o grupo espera chegar ao final de 2013 com as quantidades vendidas, cujos mercados de destino são os mercados externos, na casa dos 50 por cento.

O interesse pela língua portuguesa continua a aumentar e tem-se desenvolvido também em países que anteriormente não procuravam a nossa língua. Os livros técnicos/universitários do Grupo Lidel são cada vez mais procurados nos vários países de expressão portuguesa, tendo sido enviados em 2012 para estes países mais 12 mil livros do que no ano anterior. Alguns livros técnicos/universitários já apresentam mais vendas no total dos países de expressão portuguesa do que em Portugal.

O Grupo Lidel já lançou também um livro com a B!T, chamado “Imagem e Som”, dirigido a todos os que lidam com fotografias, vídeos e ficheiros de áudio.

photo 3Rita Annes faz parte da terceira geração deste projeto familiar, sendo neta do fundador da Lidel. Os donos da empresa são dois engenheiros do Instituto Superior Técnico e começaram como vendedores dos livros da Lidel, ainda na Faculdade, onde se conheceram e posteriormente casaram.