Smartphone do futuro pode não ser um smartphone

Quase uma década após o lançamento do iPhone, a questão do momento é se a evolução do smartphone chegou ao fim, uma vez que a Apple está agora a apresentar ecrãs de quatro polegadas como uma coisa nova.

Especialistas da indústria acreditam que a inovação em smartphones está a dar passagem para funções de telefone que estão a surgir com softwares ou serviços de todas as formas, sejam em carros, geladeiras, relógios e joias.

E os analistas e designers de produtos afirmam que novos avanços estão a ser barrados por limites práticos sobre o que é possível fazer com os smartphones atuais, seja em tamanho do ecrã, carga da bateria e capacidade de rede.

“Tudo na indústria dos smartphones é agora incremental: ligeiramente mais rápido, um pouco maior, um pouco mais de armazenamento de dados ou resolução melhor”, disse Christian Lindholm, inventor dos teclados de envio fácil de texto que fizeram os aparelhos da Nokia serem os mais vendidos.

As apostas financeiras são altas uma vez que os futuros da Apple, Google e Microsoft, as três maiores empresas do mundo com ações em bolsa no fim de 2015, discutem para definir quem vai tornar o smartphone redundante.

Muitas empresas estão a testar novas formas de ajudar os consumidores a interagir com o mundo, com acessórios pessoais ativados por voz instalados em joias, como colares ou brincos.

As gigantes de tecnologia conseguiram real progresso nesta área com o Google Now, a Apple Siri, a Microsoft Cortana e a Amazon Alexa lendo textos ou emails aos utilizadores, respondendo a perguntas práticas, controlando funções de telemóveis ou navegando mapas.

“A maneira como a coisa toda está a evoluir indica que o aparelho em si se vai tornar apenas uma outra forma de fornecer acesso à vida digital do utilizador”, disse o analista independente Richard Windsor.

Atualmente, Lindholm dirige a KoruLab, criadora de aparelhos wearable compactos. O responsável vê as funções do telemóvel inteligente a dividir-se em dois campos, aparelhos com ecrãs grandes para entretenimento e equipamentos wearable compactos para funções como calendário, acompanhamento de ritmo cardíaco ou pagamento.

Analistas do UBS estimam que os fabricantes de telemóveis inteligentes vão gerar mais de 323 mil milhões de dólares em receita este ano, uma queda de 1,4 % sobre 2015. A Apple sozinha vai ficar com metade desta receita e mais de três quartos dos lucros, segundo a empresa de pesquisa Strategy Analytics.

Seja qual for a plataforma que poderá tornar o telemóvel obsoleto, vai precisar de resolver questões como por exemplo como ampliar a vida da bateria, uma vez que os utilizadores assistem a vídeos cada vez mais.

O futuro aparelho também precisará de ter ecrãs mais flexíveis, capazes de trabalhar com diferentes condições de luz. Isso é um sonho de décadas que têm sido difícil de ser alcançado mesmo por líderes como Samsung e LG, que têm enfrentado dificuldades para produzir em massa ecrãs flexíveis a preços de mercado.

Richard Windsor afirma que os displays flexíveis, que podem ser enrolados ou dobrados e terem tamanho de até 10 ou 14 polegadas, vão libertar os telemóveis de serem definidos pelo tamanho do ecrã. “O que é um tablet?”, pergunta Windsor. “Por que é que você teria um? Esse mercado vai simplesmente evaporar da noite para o dia”, acrescentou.

*Com reportagem de Eric Auchard, da Reuters